sexta-feira, 23 de agosto de 2019

I Encontro de Gênero – 25 de junho de 2019

Gênero, palavra que amedronta, que estimula, que desdobra, que transborda, que faz verdadeiros contingenciamentos. No primeiro encontro de gênero do Coletivo Diversidade, Gênero e Negritude do Sind-UTE de Governador Valadares experenciamos as variadas perspectivas de Gênero numa desconstrução e reconstrução desta que é a ideologia que condiciona as mulheres nos lugares que ocupam. A instalação ao fundo traz os carimbos pelos quais as mulheres são marcadas na sociedade, uma cartilha cruel a ser seguida, ali, em seu corpo e naqueles objetos que subjugam seu lugar na sociedade: o de estar maquiada e com a comida pronta ao alcance de seu senhor. Um encontro que repensa o “Ninguém solta a mão de ninguém” para o lugar que este deve mesmo estar, não soltar a mão de ninguém é, antes de tudo, segurar mãos que nunca seguramos.

E o encontro segue com as palavras de mulheres, com a vivência e sobrevivência destas mulheres, mulheres trans, lésbicas, bissexuais, do campo, negras, que são relegadas ao campo da violência estereotipada. Os estereótipos que mantem a condição de subordinação das mulheres fora dos padrões pré-estabelecidos e dominantes em nossa sociedade. Os rótulos que justificam aversões daqueles que não as ouvem, que não as conhecem, que não segura suas mãos. O encontro de gênero teve o objetivo de fomentar as discussões em torno disso, pensar mulheres sujeitas de sua própria história, de trazer a reflexão ao campo da educação, de transformação dessa sociedade que mais mata mulheres trans no ranking mundial. Sueli Carneiro em sua obra “Escritos de sua vida” fala de como a imposição de um sujeito universal promoveu, justificou e naturalizou as desigualdades e as violências sofridas por sujeitos que estão fora desse modelo, a saber o patriarcalismo, como uma dessas formas de controle. A partir da compreensão do que Sueli Carneiro nos aponta é possível compreender os julgamentos e culpas que são atribuídas às mulheres e assim, sob uma outra ótica, desnormatizar o status quo.

Atrelado a tudo isso, as emoções, as discussões que o tempo foi insuficiente, deixaram inúmeras marcas, pensamentos, sentimentos e aguçaram mesmo aqueles que resistem ao diálogo. Um encontro construído a inúmeras mãos, mãos de luta, mãos sindicais, mãos educadoras, mãos que colaboraram para cada detalhe, mãos que compreenderam o convite e a importância deste momento na vida das mulheres da classe trabalhadora. Se não são estas mãos, pouco seria tão possível a este encontro.

Gênero, categoria que vamos pensar subversiva ao imposto. Mulheres são como e onde quiserem, são nos espaços que quiserem, com expressões e paixões que assim quiserem. Com cabelos que quiserem, com seus corpos conscientes de que são seus e a partir disso os apreciarem como os são, ou os modificarem como deseja, a partir de seus desejos e não do olhar do outro. Gênero é a construção que nos impede de caminhar, ou que nos impedia antes de sabermos disso. É com salto alto, é descalça, é de botinas ou de botas, é luta diária, e segurando as mãos uma das outras que as mulheres saberão que o mundo lhes pertence e ninguém as impedirão de mais nada. Um encontro para, de fato, nos (re)encontrarmos e seguirmos em nossas fileiras, com mais vigores, levezas, sorrisos e esperanças.































Arte:  Janssen de Leu






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